quarta-feira, 30 de julho de 2014

Exaustão



"A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço."


[...]



Tantas vezes havia buscado aquela rota, tantos dias e noites naquela única direção. Sem sucesso, mais uma vez estava lá. Nunca por esperança, mais por teimosia. Porque não aceitava a recusa, a negativa como resposta.


Irrompia placas de “proibido”. Não conhecia o fim da linha. Era ousada nas vias em contra mão. Ao menor alerta de “pare”, saltava-lhe o ímpeto de seguir em frente. Avançava sinais. Investia pesado na insistência. 


O galho mais alto. 
O fim da ladeira. 
O último degrau.
Até o último centavo. 
O mais distante, 
o profundo e saturado.
E, no apagar das luzes, 
o gole final. 


Exigia de si um infinito esforço nas coisas. Porque na vida nada vinha de graça. O que vinha não lhe apetecia. 


Nem sempre, quase nunca, raramente alcançava.
Restava farta, morta, exausta.
Mas, quase sempre e invariavelmente, 
lhe satisfazia 
o perene gosto 
de êxtase e sal e sono
e o suor 
de todo aquele cansaço...



[...]


"Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser..."
Álvaro de Campos 


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