“De todas as maneiras
que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras
feitas pra sangrar
Já nos cortamos"
De todas as maneiras - Chico Buarque
Deve ser mesmo culpa da língua portuguesa.
Ou do som que arranha a garganta.
Ou do som que arranha a garganta.
As palavras com um “r” assim cortante, sempre me rasgam
fundo, me dilaceram.
Torpeza, fardo, amargor,
ardor, má-sorte
corte, a morte, o dissabor.
Quem nunca sacou uma dessas assim
por defesa, desejo, instinto ou prazer
E permeou a carne alheia
até revelar as vísceras do outro
puxar de volta a palavra
esfregar na perna da calça
limpar o sangue
dar as costas
e correr?
Com a verdade é ainda mais bonito
De penetrar o outro e se manter firme
Não se ir
Não se ir
nem deixar pra trás
Porque a verdade, depois de sacada,
requer criar coragem
de olhar fundo nos olhos,
vestir a cara da maldade,
fincar,
girar
e esperar
a legítima agressão que virá
(ou quem sabe o choro agradecido)
É a satisfação da palavra que sai cuspida
porque o outro, sem se dar conta, implorou
É o deleite da dádiva concedida
de tudo aquilo que o outro, na inconsciência, desejou
A verdade é a liberdade dos dois.
Porque ter a carne rasgada
pela palavra bem afiada,
em meio ao espanto, ao medo e à raiva,
leva, por vezes, a um desmedido prazer...
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