terça-feira, 22 de julho de 2014

Quando se usa as piores armas



De todas as maneiras
que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras
feitas pra sangrar
Já nos cortamos"
De todas as maneiras - Chico Buarque



Deve ser mesmo culpa da língua portuguesa. 
Ou do som que arranha a garganta.
As palavras com um “r” assim cortante, sempre me rasgam fundo, me dilaceram.
Torpezafardoamargor,
ardormá-sorte
corte, a morte, o dissabor.


Quem nunca sacou uma dessas assim
por defesa, desejo, instinto ou prazer
E permeou a carne alheia
até revelar as vísceras do outro
puxar de volta a palavra
esfregar na perna da calça
limpar o sangue
dar as costas
e correr?


Com a verdade é ainda mais bonito
De penetrar o outro e se manter firme
Não se ir
nem deixar pra trás
Porque a verdade, depois de sacada,
requer criar coragem
de olhar fundo nos olhos,
vestir a cara da maldade,
fincar,
girar
e esperar
a legítima agressão que virá
(ou quem sabe o choro agradecido)
É a satisfação da palavra que sai cuspida
porque o outro, sem se dar conta, implorou
É o deleite da dádiva concedida
de tudo aquilo que o outro, na inconsciência, desejou

A verdade é a liberdade dos dois.

Porque ter a carne rasgada
pela palavra bem afiada,
em meio ao espanto, ao medo e à raiva,
leva, por vezes, a um desmedido prazer...






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