Fitava seus pés. E abaixo deles, o abismo.
O penhasco era
profundo, desses de não se ver onde vai dar, de encostas rochosas
cobertas de relva, de um claro caminho que seduz e convida a entrar.
Fitava seus pés e o abismo.
O vento era doce,
desses de brincar com os cabelos e os pelos, de bagunçar o vestido,
de levar embora pesadelos e medos, de trazer com ele o frescor da
manhã.
Fitava seus pés e o abismo.
O cheiro era suave,
desses de um aspirar intenso e com um largo sorriso, de lembrar das
coisas boas da infância, da casa da avó, das frutas no pé, do inocente amor que nasce entre primos.
Fitava seus pés e o abismo.
O céu era impassível,
desses que convidam a voar, planar, girar e bailar, de atravessar
mares e oceanos, escalar montanhas, que levam longe, pra qualquer
lugar que se queira chegar.
Fitava seus pés e o abismo.
O
sol era afável, desses que cobrem o corpo com ternura e
carinho, que aquecem a alma, oferecem um cochilo na grama e no colo
do amigo, que confortam as pálpebras já
no primeiro raio da manhã.
Fitava seus pés e o abismo.
O dia era o mais lindo,
desses que não se quer acabar, de ficar nas pontas dos pés,
flutuar, abrir os braços, olhar o abismo e saltar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário