Naquela
manhã, acordou morta. Não exausta, morta. Não era a primeira vez
que acordava assim, morta. Acordou morta e com fome, muita fome. Já
se acostumara às sensações de falta de ar, afogamento e até de
morte. Havia dias se sentia assim. Mas fome, era a primeira vez em
todas aquelas semanas. Devorou um copo de leite que nem lembrava
estar na cabeceira, mas ainda tinha fome. Não entendia como que
enquanto morta pudesse sentir tanta vontade de comer. Ainda na cama,
sentiu um ar tórrido de um calor tão inédito quanto capaz de
devolver as batidas aquele seu coração agora tão desprovido de
qualquer movimento. Com o ardor, um excitante cheiro de ferrugem
penetrava suas narinas de modo tão convidativo quanto incomum. Foi
então que se virou bem devagar e pode ver ao
alcance de um palmo aquele vaso pulsante de um pescoço esguio, belo e macio a lhe saltar os olhos. Suas pupilas dilataram-se ao ritmo daquela jugular. A saliva lhe escorreu o canto
dos lábios capturada pela língua sedenta. Com ela esfregou ainda o
canino sobressaltado que nem sabia possuir. Sorriu, fechou os olhos,
aspirou com profundidade ainda mais uma vez aquela ferrugem, e
mordeu.
Mordeu com tamanho desejo e regozijo que parecia-lhe morder um fruto proibido, uma maçã tenra e luminosa. Tão suave e profundamente que parecia-lhe uma dança. Tão intensa e apressadamente que parecia-lhe o fim. E matou a fome, e matou aquele homem. Foi só então que reconheceu-lhe a face ainda que naquela forma inerte e já sem viço e já quase sem brilho no olhar. Sentiu, por um vil segundo, um fio de pena. Sentiu, por um fio de segundo, uma reles e vã saudade. Porque, saciada, não se demorou na expiação. Dalí em diante, eram os ossos do ofício. E como não fosse dada a chorar sobre o leite derramado, lambeu o leite, o sangue e depois os dedos, um a um. De olhos fechados, sem pressa. Sentindo um misto de prazer e gratidão.
Levantou, vestiu a roupa e os sapatos. Saiu sem bater a porta e, lambendo a última gota de sangue escorrida no lábio, sorriu. Ela ainda não sabia, mas ali, naquele instante, voltava a viver.
Mordeu com tamanho desejo e regozijo que parecia-lhe morder um fruto proibido, uma maçã tenra e luminosa. Tão suave e profundamente que parecia-lhe uma dança. Tão intensa e apressadamente que parecia-lhe o fim. E matou a fome, e matou aquele homem. Foi só então que reconheceu-lhe a face ainda que naquela forma inerte e já sem viço e já quase sem brilho no olhar. Sentiu, por um vil segundo, um fio de pena. Sentiu, por um fio de segundo, uma reles e vã saudade. Porque, saciada, não se demorou na expiação. Dalí em diante, eram os ossos do ofício. E como não fosse dada a chorar sobre o leite derramado, lambeu o leite, o sangue e depois os dedos, um a um. De olhos fechados, sem pressa. Sentindo um misto de prazer e gratidão.
Levantou, vestiu a roupa e os sapatos. Saiu sem bater a porta e, lambendo a última gota de sangue escorrida no lábio, sorriu. Ela ainda não sabia, mas ali, naquele instante, voltava a viver.
Blog ta linnnnndo! <3 ..tu bem podia republicar alguns textos antigos tbm, né?! =] Sdds.. ;*
ResponderExcluirnão pode parar...muito bom...mesmo!
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