A cada evento, sua
revolução. A experiência com
chás e ritos, mantras e rezas. A estreia no palco. Uma declaração de amor não
correspondida. Um diagnóstico recebido. O pedido de perdão. O parto da melhor
amiga. A descoberta de um irmão. A pequena cidade deixada para trás. Apenas um
quarto como morada. A gestação. O nascimento do filho. O início da mãe. Quando
escreveu e publicou. O parágrafo final. A fatalidade de um poema. O emprego
confortável deixado pra trás. Uma tarde e um café na casa da missionária. A
declaração de amor correspondida. O mestrado depois dos trinta.
Não exatamente nessa ordem, cada um desses momentos, grandiosos ou banais, foram, na verdade, suas pequenas grandes revoluções. À primeira vista, fatos comuns. Fragmentos de uma vida qualquer dentre tantas no mundo. Mas ela sabe que não. Sabe que ali foram feitas suas pequenas grandes revoluções. Assim o foram porque dobraram sua espinha. Cavaram mergulhos profundos, reviraram o íntimo da sua alma. Tudo de novo emergia. O chão entreaberto, paradigmas estremecidos, uma grande interrogação. Revia a passagem comprada, o itinerário. Refazia a bagagem para descarregar o abstrato, o supérfluo, tudo que fosse excesso. Saía jogando o lixo fora e arrumava gavetas e limpava a casa. Quebrava correntes, erguia as armas, organizava a luta. Abria estradas, derrubava cercas e arrombava portas. Sacudia a mente, deixando cair as folhas secas. Eram momentos de replantio, de semear escolhas, ver brotar novos conceitos. Podia sorrir, chorar, espernear, fazer o diabo. Ou deitar encolhida e rezar sua prece inventada, na luz apagada para dar ouvidos ao coração. Demorava um bom tempo até se alcançar naquela sua pessoa desconhecida. Mas era mesmo questão de tempo e logo diria: “- olá, muito prazer!” Não impunemente, claro. Jamais saiu sem arranhões. Afinal, todo movimento revolucionário deixa marcas profundas. Acontece com os rios, as vilas, os governos e as gentes. Provoca rupturas, destruição de pontes e abrigos. Abre cortes e abismos. Até que o sol chegue, podem ser muitas as noites amargas de solidão. Mas naquele novo cenário, de necessária reconstrução, entendia que toda revolução era a oportunidade de ser melhor. Nunca pretensamente melhor que os outros, mas apenas a melhor versão de si mesma. Com um pouco menos de mediocridade. E nunca lhe foi preciso ir muito longe, bancar grandes viagens, investir dinheiro pesado, alçar elevadas titulações. Nem mesmo tomar decisões prévias, de justas certezas e claras resoluções. Porque, “às vezes, um gesto, uma palavra, um olhar, modificam o nosso rumo.”* E porque é de pequenas grandes revoluções que se faz o pássaro que, ao deixar o estorvo da casca, ainda sem penas, nem imagina que já já vai estar pronto para voar...
Não exatamente nessa ordem, cada um desses momentos, grandiosos ou banais, foram, na verdade, suas pequenas grandes revoluções. À primeira vista, fatos comuns. Fragmentos de uma vida qualquer dentre tantas no mundo. Mas ela sabe que não. Sabe que ali foram feitas suas pequenas grandes revoluções. Assim o foram porque dobraram sua espinha. Cavaram mergulhos profundos, reviraram o íntimo da sua alma. Tudo de novo emergia. O chão entreaberto, paradigmas estremecidos, uma grande interrogação. Revia a passagem comprada, o itinerário. Refazia a bagagem para descarregar o abstrato, o supérfluo, tudo que fosse excesso. Saía jogando o lixo fora e arrumava gavetas e limpava a casa. Quebrava correntes, erguia as armas, organizava a luta. Abria estradas, derrubava cercas e arrombava portas. Sacudia a mente, deixando cair as folhas secas. Eram momentos de replantio, de semear escolhas, ver brotar novos conceitos. Podia sorrir, chorar, espernear, fazer o diabo. Ou deitar encolhida e rezar sua prece inventada, na luz apagada para dar ouvidos ao coração. Demorava um bom tempo até se alcançar naquela sua pessoa desconhecida. Mas era mesmo questão de tempo e logo diria: “- olá, muito prazer!” Não impunemente, claro. Jamais saiu sem arranhões. Afinal, todo movimento revolucionário deixa marcas profundas. Acontece com os rios, as vilas, os governos e as gentes. Provoca rupturas, destruição de pontes e abrigos. Abre cortes e abismos. Até que o sol chegue, podem ser muitas as noites amargas de solidão. Mas naquele novo cenário, de necessária reconstrução, entendia que toda revolução era a oportunidade de ser melhor. Nunca pretensamente melhor que os outros, mas apenas a melhor versão de si mesma. Com um pouco menos de mediocridade. E nunca lhe foi preciso ir muito longe, bancar grandes viagens, investir dinheiro pesado, alçar elevadas titulações. Nem mesmo tomar decisões prévias, de justas certezas e claras resoluções. Porque, “às vezes, um gesto, uma palavra, um olhar, modificam o nosso rumo.”* E porque é de pequenas grandes revoluções que se faz o pássaro que, ao deixar o estorvo da casca, ainda sem penas, nem imagina que já já vai estar pronto para voar...