"A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço."
[...]
Tantas vezes havia buscado aquela rota, tantos dias e noites
naquela única direção. Sem sucesso, mais uma vez estava lá. Nunca por
esperança, mais por teimosia. Porque não aceitava a recusa, a negativa como
resposta.
Irrompia placas de “proibido”. Não conhecia o fim da linha. Era
ousada nas vias em contra mão. Ao menor alerta de “pare”, saltava-lhe o ímpeto
de seguir em frente. Avançava sinais. Investia pesado na insistência.
O galho
mais alto.
O fim da ladeira.
O último degrau.
Até o último centavo.
O mais distante,
o profundo e saturado.
E, no apagar das luzes,
o gole final.
Exigia de si um infinito esforço nas coisas. Porque na vida nada vinha de graça. O que vinha não lhe
apetecia.
Nem sempre, quase nunca, raramente alcançava.
Restava farta, morta, exausta.
Mas, quase sempre e invariavelmente,
lhe satisfazia
o perene gosto
de êxtase e sal e sono
e o suor
de todo aquele cansaço...
[...]
"Porque eu amo infinitamente o finito,
"Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser..."
Álvaro de Campos
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